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Destaque da semana
Os destaques da agenda econômica desta semana ficaram centrados em atividade econômica tanto na economia doméstica quanto no exterior.
Antes, porém, é importante enfatizar que o mês de março, foi, provavelmente, o mais desafiador dos últimos tempos. A pandemia de COVID-19 avançou de forma avassaladora sobre Europa e Estados Unidos. O total de contaminados em todo o mundo ultrapassa a marca de 1 milhão, incluindo 52 mil mortos. A situação é particularmente preocupante nos EUA, que lideram com cerca de 240 mil casos.
Dada a particularidade do choque o mesmo tem acontecido de forma dessincronizada globalmente, de forma que cada região apresenta um estágio diferente na curva de disseminação do vírus.
A China que é a região primária do surto já apresenta contenção das contaminações e retomada da atividade ainda que de forma descompassada setorialmente. Setores com maior contato social como restaurantes, hotéis e shoppings estão com a recuperação bem mais lenta que outros como importação/exportação e indústria.
Já a Europa, os casos começam a apresentar alguma estabilidade no crescimento na margem, mas, diferentemente da China onde havia um centro principal de contágio (Hubei), na Europa há vários núcleos de disseminação. Neste sentido, a contenção do vírus tende a ser mais difícil e os impactos da quarentena já começam a se materializar nos dados de energia e fluxo de pessoas, por exemplo.
Por fim, nos Estados Unidos, a situação ainda é mais grave que a europeia. Também possui vários polos de disseminação do vírus e as regiões mais impactadas são aquelas mais desenvolvidas, portanto impacto na economia deverá ser avassalador, como já verificado nos dados de emprego recentes.
Os dados apresentados nesta semana em relação à atividade econômica no exterior mostraram forte queda em março principalmente dos PMIs. O índice de gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) composto da zona do euro desabou de 51,6 em fevereiro para a mínima histórica de 29,7 em março. A queda foi maior do que a primeira leitura do indicador de 31,4. A maior economia do continente, a Alemanha, também registrou uma queda inédita em seu PMI composto, que passou no período de 50,7 para 35. Da mesma forma, o PMI composto britânico despencou de 53 para 36 de fevereiro para o mês passado. Um dado mais antigo da zona do euro revelou que as vendas no varejo subiram 0,9% de janeiro para fevereiro, quando a Covid-19 ainda não tinha se alastrado pelo continente.
Por outro lado, o PMI industrial da China subiu de 35,7 em fevereiro para 52 em março, já o PMI de serviços chinês avançou de 29,6 para 52,3 no mesmo período.
As leituras acima de 50 mostram que tanto a manufatura quanto o setor de serviços da China voltaram a se expandir em março, após se contraírem em ritmo recorde no mês passado em função das medidas de contêm do COVID-19.
Em relação à atividade doméstica, tivemos a publicação da produção industrial e a taxa de desocupação da economia brasileira, ambos referente ao mês de fevereiro.
Em relação à taxa de desemprego (PNAD), índice subiu de 11,2% no trimestre encerrado em janeiro para 11,6% no trimestre encerrado em fevereiro na séria sem ajuste sazonal. Na série ajustada sazonalmente houve queda de 11,5% para 11,4% nas mesmas bases de comparação.
Em linha com a melhora da ocupação (+2,0% a.a.), a massa salarial avançou 1,91% frente ao mesmo período do ano passado, mas segue perdendo dinamismo devido ao comportamento do rendimento médio que passou ao campo negativo (-0,2% a.a. em fevereiro frente estabilidade em janeiro).
Neste sentido, o mercado de trabalho seguia mostrando melhora adicional na margem ainda que em ritmo baixo. Entretanto, o cenário prospectivo é desafiador. Os impactos econômicos do surto de coronavírus ainda não são completamente mensuráveis, mas obviamente terão impacto negativo na ótica do emprego.
Já a produção industrial de fevereiro avançou em 0,5% ante janeiro, na série ajustada sazonalmente. Tal resultado foi acima do esperado por nós (-0,2%). Na comparação contra o mesmo período do ano anterior, o indicador cedeu 0,4%.
Desta forma, com os dados mais recentes em mãos revisamos nossa projeção de PIB deste ano de -0,2% para -3,0%. Dada a incerteza e magnitude do choque acreditamos que tal número tem viés negativo a depender a duração das medidas de contenção. Em relação a recuperação subsequente as incertezas também são grandes. As retiradas das medidas de contenção deverão ser realizadas gradualmente de forma que a recuperação não seja muito vigorosa. Esperamos uma retomada a partir do terceiro trimestre o que resultaria em 2,9% de crescimento em 2021.
Destaque da semana
Para próxima semana, os destaques da agenda serão tanto os dados de atividade com a publicação das vendas no varejo referente ao mês de fevereiro, quanto com inflação com a publicação do IPCA de março.
Para as vendas no varejo esperamos queda de 0,8% em fevereiro ante janeiro, na série ajustada sazonalmente. Em relação ao mesmo período do ano anterior a projeção é de alta de 2,0%. Já no conceito ampliado, que inclui as vendas de veículos e material de construção, esperamos alta de 0,4% contra janeiro ajustado sazonalmente e 3,8% na comparação interanual.
Para o IPCA de março, nossos modelos apontam para taxa de inflação de 0,10% em março. Com a materialização deste valor, o acumulado em 12 meses passará de 4,01% em fevereiro para 3,34% em março.

Rafael G. Cardoso, economista-chefe
rafael.cardoso@bancodaycoval.com.br
Antônio Castro, analista econômico