Veja aqui os eventos da próxima semana
Internacional
O que passou: Nesta semana, o foco externou ficou para o avanço da variante ômicron pelo mundo e também para os dados de inflação nos Estados Unidos da América (EUA).
Sobre a ômicron ainda há bastante incerteza sobre a nova variante da COVID-19, porém o indicativo de que uma terceira dose da vacina da Pfizer seria suficiente para combater a nova cepa foi vista como positiva pelos mercados nesta semana. Porém o desconhecimento da capacidade efetiva de transmissão da variante e sua letalidade ainda permanecem como um risco à recuperação da atividade econômica global.
Ainda sobre a pandemia, a Europa vem sofrendo com uma alta significativa de casos, principalmente na Alemanha e outras regiões como Reino Unido, já ensaiam novas restrições de mobilidade e controles para combater o crescente número de casos na região. O risco para uma continuada escalada nos casos é a pressão sobre o sistema de saúde e consequente aumento no número de novos óbitos.
Sobre a inflação nos EUA, a leitura do índice fechado mostrou alta de 0,8% em novembro, desacelerando em relação ao mês anterior quando havia subido 0,9%, mas ainda assim acima do esperado pelo mercado de 0,7%.
As preocupações com uma inflação mais alta nos EUA tem alterado, mesmo que de forma bastante gradual, a postura do Banco Central americano, o Federal Reserve (Fed). Com a divulgação de novembro, o acumulado em 12 meses do CPI passou de 6,2% para 6,8%, bem acima da meta de 2% do Fed. E esta piora do cenário inflacionário já reflete numa expectativa de elevação do ritmo do tapering de $15 bilhões para $30 bilhões ao mês e também de altas de juros pela autoridade monetária ainda em 2022.
Próxima semana: Para a próxima semana, os destaques da agenda serão as decisões de política monetária do Fed e do Banco Central Europeu (BCE), assim como os dados de atividade econômica de diversas regiões. Os dados da produção industrial e vendas no varejo da China, Estados Unidos e Zona do Euro referente à novembro, mostrarão se a nova variante ômicron e a alta de casos na Europa já afeta a atividade econômica global.
Brasil
O que passou: No cenário doméstico a semana foi agitada devido à decisão de política monetária do BC brasileiro, números de inflação de novembro e também devido aos dados de atividade econômica do varejo referente a outubro.
Sobre a decisão de juros, tivemos nesta semana a última reunião do COPOM para este ano. Conforme havíamos comentado na semana passada, nossa expectativa de que o BC elevaria a taxa Selic em 150 pontos base, ou seja, de 7,75% a.a. para 9,25% a.a. se concretizou. Contudo, havia enorme dúvidas quanto ao tom do comunicado a ser apresentado pelo BC.
Nossa expectativa era de que diante do quadro deteriorado de inflação tanto corrente quanto das expectativas futuras, o BC fosse explicitar maior intolerância em relação a este ambiente e, portanto, mostrar mais firmeza em suas intenções. O comunicado veio na direção do que achávamos, porém veio ainda mais duro e firme na sua luta para combater o processo inflacionário.
Sobre a atividade econômica, se havia alguma dúvida de que uma atividade mais fraca no próximo ano poderia fazer o BC agir de forma mais moderada neste momento, a pouca menção feita sobre o assunto mostrou que o BC não parece estar disposto a arriscar perder sua credibilidade. Neste mesmo sentido, também sinalizou outro ajuste de mesma magnitude para a próxima reunião e deixou claro que pretende conduzir a política monetária para um terreno significativamente contracionista.
A estratégia adotada envolve perseverar no objetivo de não apenas desinflacionar, mas também reancorar as expectativas de inflação dos próximos anos que se encontram acima de suas respectivas metas.
A dúvida que surge agora e que poderá ser melhor compreendida na divulgação da Ata e do RTI na próxima semana é se o BC no final do ciclo de aperto monetário elevará os juros para um patamar muito maior do que o usado em suas projeções (foi usada trajetória de juros extraída do focus com juros em 11,25% ao final de 2022) ou se a expressão “perseverar” que foi utilizada, significa o objetivo de manutenção dos juros em patamar elevado por mais tempo até que seus dois objetivos (desinflacionar e ancorar) sejam realizados.
Em linhas gerais, nossa expectativa é que o BC siga o que entendemos ser o seu plano de voo e continue elevando os juros até a reunião de março do próximo ano, levando a Selic para 12,25%. Entretanto, não descartamos a possibilidade de extensão do ciclo, porém num ritmo menor de alta de juros.
Já sobre o IPCA de novembro, a divulgação nesta manhã pelo IBGE do índice de preços mostrou uma surpresa positiva. A taxa de variação deste indicador apresentou alta menor (0,95%) em relação ao que era esperado por nós (1,01%) e pela mediana do mercado (1,10%).
O grande destaque baixista ocorreu no grupo de Alimentos e Bebidas (-0,04%), resultado este que pode ser explicado pela deflação no subgrupo Alimentação Fora do Domicílio (-0,25%) e alguns itens de Alimentação no Domicílio como Arroz (-3,58%), Feijão (-2,32%), Carnes Vermelhas (-1,41%), Leites e Derivados (-1,47%), Frutas (-0,42%).
Também houve desaceleração no grupo de Bens Industriais como resultado dos descontos na Black Friday. A principal queda ocorreu no subgrupo Produtos de Higiene (-3,0%) em função da queda de mais de 10% dos preços dos Perfumes. Entretanto, continuamos observando forte pressão de preços em diversos itens deste grupo como Automóveis novos e usados, Mobiliário e Eletrodomésticos.
Já no grupo de Serviços a surpresa ficou por conta de Alimentação fora que apresentou deflação, porém alguns itens com características mais inerciais como Aluguéis e outros itens ligados a turismo como Hospedagem tiveram alta maior em relação ao que era esperado.
Em resumo, o resultado mostra arrefecimento em relação ao número de inflação de outubro (1,25%). Entretanto, nos parece muito concentrado em alguns itens conforme mostrado acima. Não está claro se a melhora observada em Alimentação significa uma tendência a partir de agora. O IPCA deste mês foi fortemente influenciado pela Black Friday e, portanto, não deve ocorrer novamente nos próximos meses. Nesse sentido, após este resultado alteramos nossa projeção de IPCA para o fechamento deste ano para 10% (ante 10,1%). Para o próximo ano não houve alterações e mantivemos previsão de 4,7%.
Por fim, as vendas no varejo de outubro continuaram a mostrar desempenho ruim do setor de bens. O comércio varejista cedeu 0,1% em outubro no conceito restrito e -0,9% no conceito ampliado, que inclui as vendas de veículos e material de construção. A queda da atividade no comércio foi disseminada e 7 dos 10 setores da PMC apresentaram variação negativa e 5 dos 10 setores estão abaixo do nível pré pandemia.
Nesta leitura, os grupos mais sensíveis à renda apresentaram variação nula enquanto os setores mais relacionados ao crédito foram os mais afetados com variação negativa de 0,6%. E esta queda já pode ser relacionado como um dos efeitos da normalização monetária iniciada no início do ano.
No resumo, com mais esta leitura dos dados de atividade, fica evidente a desaceleração do setor de bens impondo dificuldades à economia brasileira em perseverar no processo de recuperação e a normalização monetária já impõe seus custos, com menor intensidade em 2021, mas com impacto principal em 2022, onde nossa projeção de crescimento do PIB é de 0,5%.
Próxima Semana: Para a próxima semana, os destaques da economia doméstica serão os dados de atividade econômica com o IBC-BR de outubro, além da Ata do COPOM referente à decisão de política monetária desta semana e também para o Relatório Trimestral de Inflação do BC que mostrará mais detalhes sobre a visão de conjuntura do BC além de suas expectativas para e economia brasileira sobre atividade e inflação.
Rafael G. Cardoso, economista-chefe
rafael.cardoso@bancodaycoval.com.br
Julio Mello de Barros, economista
julio.barros@bancodaycoval.com.br
Antônio Castro, analista econômico