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Ontem o COPOM decidiu por unanimidade reduzir a taxa SELIC de 4,5% para 4,25%. A redução era a expectativa majoritária no mercado, mas contrária a nossa expectativa de manutenção da taxa SELIC. Por trás da nossa projeção estava, principalmente, o argumento que o BCB já deveria estar de olho em 2021, dada a defasagem da política monetária, e, neste caso, com expectativa de inflação já ancorada na meta.
Desta forma, apesar de ter cortado a taxa de juros, o COPOM usou tal argumentação para sinalizar a interrupção do ciclo adiante, tornando essa a principal mensagem do comunicado. Assim a taxa SELIC deverá permanecer estável em 4,25%, pelo menos, ao longo do primeiro semestre.
Diversas outras alterações na comunicação do COPOM dão respaldo a sinalização mais conservadora, sendo as principais:
- Os núcleos de inflação, que vinham sendo caracterizados de “confortáveis”, foram classificados como “compatíveis” com o cumprimento da meta, o que sugere leitura marginalmente menos benigna.
- Peso crescente para o ano-calendário de 2021 e a explicitação de dois modelos (híbrido e de mercado), além das expectativas de mercado, com expectativa para tal ano ancoradas na meta.
- Revisão do balanço de riscos com acréscimo do risco de um possível aumento da potência de política monetária elevar o risco da inflação subir acima do esperado.
Entretanto, em nossa opinião, para além das reuniões do primeiro semestre acreditamos que o BCB reavaliará a política monetária em meados do ano o que poderá resultar em novos movimentos no segundo semestre. Contrariamente a modelagem explicitada pelo BCB e a expectativa mediana de mercado, nossos modelos apontam para inflação ainda bem abaixo da meta em 2021, especialmente para medidas de inflação subjacentes.
Neste sentido, acreditamos que o BCB adotará novamente uma postura favorável a juros baixos ainda este ano, sendo possivelmente algum ajuste marginal na taxa SELIC (um ou dois cortes de 0,25p.p.) ou sinalização mais clara que a duração dos juros em patamares estimulativos por maior período.
Rafael G. Cardoso, economista-chefe
rafael.cardoso@bancodaycoval.com.br
Antônio Castro, analista econômico