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O IPCA de agosto variou 0,24% após subir 0,36% no mês anterior, tal resultado foi pouco abaixo do esperado por nós (0,29%). Com isso o acumulado em 12 meses passou de 2,3% para 2,4%. De forma geral, o número levemente mais alto reflete alguma alta de alimentos, reversão dos preços de combustíveis após quedas no período de quarentena.
Já os núcleos de inflação e a inflação de serviços continuam mostrando trajetória benigna. A nova medida média de núcleos (EX0, EX3, MS, DP e P55) divulgada pelo Banco Central no Relatório Trimestral de Inflação em junho, acelerou de 1,2% para 1,7% em agosto, na média trimestral dessazonalizada e anualizada, mas ainda abaixo limite inferior da banda de inflação (2,5%). Serviços subjacentes e serviços também na mesma métrica estão em -1,3% e 0,6%, respectivamente.

Sobre a pressão em alimentos, os fatores explicativos derivam tanto de efeitos da variação cambial quanto dos preços de commodities que pressionam os preços ao produtor e acabam por serem repassados em alguma proporção ao consumidor, especialmente pela via de proteínas e correlatos, como também a maior facilidade de repasse devido à injeção de recursos do auxílio emergencial.
Alguma evidencia deste movimento poderia ser o desempenho de hipermercados e supermercados no varejo, que até julho performava 10,2% acima do período pré-crise do novo coronavírus (fev/20).
No entanto, a despeito das pressões no curto prazo, mantemos nossa expectativa para este e o próximo ano fechados em 1,6% e 2,8%, respectivamente. As pressões altistas deverão ficar contidas em grupos específicos com pouco impacto sobre serviços e núcleos especialmente.
Para a decisão de política monetária da próxima semana, em nossa opinião, os fundamentos macroeconômicos, especialmente a ociosidade na economia, a inflação corrente e as expectativas de inflação permitiram ao Banco Central levar a taxa SELIC a aproximadamente 1,5%. Entretanto, acreditamos que a taxa de juros deva ficar em patamar próximo ao atual (2,0%) até pelo menos final de 2021.
Rafael G. Cardoso, economista-chefe
rafael.cardoso@bancodaycoval.com.br
Antônio Castro, analista econômico