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Nesta manhã, o IBGE divulgou que o volume das vendas no varejo referente ao mês de junho cresceu 8,0% frente a maio, já excluídos os efeitos sazonais e 0,5% contra junho de 2019.
No conceito ampliado, que inclui venda de veículos e material de construção, o índice avançou 12,6% comparado ao mês anterior e -0,9% em relação ao mesmo período do ano passado. Ambos os resultados foram acima do esperado por nós e pelo mercado.

A leitura forte de junho coloca as vendas do varejo (sazonalmente ajustado), no patamar pré-crise do coronavírus, em fevereiro de 2020.

No entanto, conforme vínhamos destacando em publicações anteriores, os efeitos das medidas de contenção ao espalhamento da covid-19 seriam descompassados entre os segmentos do varejo, fato que vem sendo confirmado nas últimas leituras. Em maio, apenas Hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo e Artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos performaram em patamares melhores que outros setores devido ao menor grau de restrição em suas atividades. Em junho, ampliou-se este grupo, devido, ao que acreditamos ser a materialização dos efeitos das transferências de renda por parte do governo, que ficou conhecido como corona voucher e pela menor restrição à circulação de pessoas e consequentemente a realização de algum consumo reprimido. Desta forma, Móveis e eletrodomésticos e Material de construção somam-se a Hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo e Artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos como setores com desempenho positivo na leitura ano contra ano.

Desta forma, a economia brasileira, ainda que apresente retomada heterogênea entre os setores, tem mostrado dados melhores que o esperado, sendo assim, nossa expectativa de uma queda de 6,1% do PIB para 2020 foi revista para queda pouco menor de 5,2% e para alta de 3,4% em 2021 (frente 3,8% anteriormente). Entretanto, ainda permanece em nosso cenário que para as próximas leituras, esperamos dados mais erráticos, uma vez que os impulsos atuais tentem a não se perpetuar para o futuro, pois são apoiados numa demanda reprimida derivada do período da quarentena e também pelas medidas do governo de transferência de recursos que ficou conhecido como “corona voucher”, que têm sustentado os fluxos monetários das pessoas mais afetadas pela pandemia por um período, mas que perderão efeito ao longo do ano. Vale destacar que haverá adiante perda de renda permanente com a retirada do auxilio devido ao maior nível de desemprego, conforme vimos na PNAD na semana anterior (aqui).
Rafael G. Cardoso, economista-chefe
rafael.cardoso@bancodaycoval.com.br
Antônio Castro, analista econômico