Para acessar este relatório em PDF clique aqui
Nesta manhã, o IBGE divulgou que o volume das vendas no varejo referente ao mês de julho que avançou 5,2% frente a junho, já excluídos os efeitos sazonais e 5,5% contra julho de 2019. No conceito ampliado, que inclui venda de veículos e material de construção, o índice avançou 7,2% comparado ao mês anterior e 1,6% em relação ao mesmo período do ano passado. O varejo restrito surpreendeu positivamente, ficando acima do esperado por nós e do mercado.

A leitura de julho mostrou continuidade do processo de recuperação após a reabertura da economia, mas em ritmo pouco menos intenso frente junho. No conceito dessazonalizado, as vendas do varejo já estão 5,3% acima em relação ao patamar pré-crise do coronavírus, em fevereiro de 2020.

No entanto, conforme vínhamos destacando em publicações anteriores, os efeitos das medidas de contenção ao espalhamento da covid-19 têm afetado os segmentos do varejo de forma heterogênea, fato que vem sendo confirmado nas últimas leituras. Em maio, apenas Hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo e Artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos performavam em patamares melhores que outros setores devido as características específicas das suas atividades (bens essenciais) e da crise em si.
Em junho, ampliou-se este grupo, devido, ao que acreditamos ser a materialização dos efeitos das transferências de renda por parte do governo, que ficou conhecido como corona voucher e pela menor restrição à circulação de pessoas e consequentemente a realização de algum consumo reprimido. Desta forma, Móveis e eletrodomésticos e Material de construção somam-se a Hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo e Artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos como setores com desempenho positivo na leitura ano contra ano. Por fim, em julho, o que vemos é um aprofundamento destas disparidades entre os setores mais resilientes durante a crise e os impactados positivamente pelo auxílio emergencial frente aos demais setores que sofreram e seguem sofrendo efeitos mais intensos do distanciamento social, como combustíveis e lubrificantes e tecido, vestuário e calçados.

Desta forma, a economia brasileira, ainda que apresente retomada heterogênea entre os setores, tem mostrado dados melhores que o esperado, o que gera viés de melhora para as projeções de atividade econômica em geral. Até então, para o PIB de 2020 esperamos queda de 5,2% e alta de 3,4% em 2021.
Entretanto, mesmo com a surpresa positiva nas últimas leituras, esperamos que o processo de arrefecimento do ímpeto da atividade econômica continue adiante com a passagem dos efeitos mais intensos do auxílio emergencial e com a realização da demanda reprimida no período de maior isolamento social.
Rafael G. Cardoso, economista-chefe
rafael.cardoso@bancodaycoval.com.br
Antônio Castro, analista econômico