No exterior, os mercados não apresentam direção única nesta manhã. De um lado as bolsas asiáticas fecharam em tom positivo, apoiadas pela reabertura da economia na Zona do Euro e nos Estados Unidos. Por outro, os indicadores de atividade econômica na Europa apresentaram queda expressiva tanto das vendas no varejo da região quanto das encomendas à indústria alemã.
Sobre o processo de reabertura, vale destaque que a despeito de uma flexibilização parcial em alguns estados do EUA, parcela relevante da população julga que não é adequado neste momento tal movimento e teme uma segunda onda de contaminações.
Pesquisa realizada pela Universidade de Maryland-Washington Post entre os dia 28 de abril e 3 maio destacou que 30% das pessoas entrevistadas relatam que a pior fase da pandemia está ocorrendo agora em suas comunidades, enquanto 38% acreditam que a etapa mais negativa ainda vai ocorrer.
Além disso, a pesquisa ressaltou que grande parte dos cidadãos acredita que os Estados não deveriam permitir a abertura de diversos estabelecimentos. Sessenta e seis por cento são favoráveis ao fechamento de lojas de varejo, 69% são contra o funcionamento de barbearias e salões de cabeleireiros, 78% não querem academias de ginástica em atividade, sendo que tal avaliação sobe e atinge 82% para cinemas.
Desta forma, mesmo com a reabertura do comércio a retomada pode ser ainda bastante gradual devido à resistência de ir às comprar por parte dos consumidores.
Por outro lado, o processo de reabertura é a grande aposta do presidente Donald Trump para seu projeto de reeleição em novembro. Desta forma, tenta travar uma luta contra o tempo para iniciar a recuperação da economia ainda neste trimestre, a fim de gerar uma forte ascensão do consumo, atividade de empresas, investimentos e redução do desemprego a partir do terceiro trimestre. Aumentando a percepção de franca melhora do bem-estar dos americanos às vésperas do pleito, podendo lhe assegurar uma votação consagradora e garantir seu segundo mandato.
As previsões para a economia dos EUA para este ano são muito negativas, com taxa de desemprego atingindo entre 16% e 20% em junho, segundo o assessor econômico do presidente, Kevin Hassett, e queda do PIB de 5,9% em 2020, de acordo com o Fundo Monetário Internacional.
Indo em direção à Europa, os indicadores desta manhã indicaram que as encomendas à indústria da Alemanha sofreram um tombo histórico de 15,6% em março ante fevereiro, na série ajustada sazonalmente, evidenciando o violento impacto econômico da pandemia de coronavírus. Na Zona do Euro como um todo, as vendas no varejo também caíram na margem com um tombo de 11,2% em março ante fevereiro. O resultado veio abaixo da expectativa (-10,5%). Na comparação anual, a redução foi de 9,2% em março.
No Brasil, os destaques desta manhã ficam para o rebaixamento da perspectiva do rating brasileiro pela Fitch para negativa e aprovação pela Câmara dos Deputados do projeto de lei do Senado que destina ajuda de R$ 125 bilhões para os Estados e municípios em razão da pandemia de Covid-19. O texto retornará ao Senado, devido à alterações nas categorias de servidores públicos que estarão fora do congelamento dos salários e também sobre mudanças na fórmula da repartição do dinheiro. A manobra dos deputados impõe uma derrota ao ministro da Economia, Paulo Guedes.
Ainda no Congresso, hoje a Câmara deve votar em segundo turno a PEC do Orçamento de Guerra. E fica no radar político também os desdobramentos dos trechos do depoimento do ex-ministro Sérgio Moro à Polícia Federal.
O ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal, atendeu pedido apresentado pelo procurador-geral da República, Augusto Aras, e autorizou a coleta de depoimento dos ministros Augusto Heleno (GSI), Walter Braga Netto (Casa Civil) e Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo). A decisão foi tomada no inquérito que apura as acusações de Moro contra Bolsonaro. O decano deu 20 dias para o cumprimento das diligências. Ainda sobre este tema, o ministro também mandou o Planalto apresentar, em 72 horas, as cópias das reuniões entre o presidente Jair Bolsonaro e o primeiro escalão do governo citadas pelo ex-ministro em depoimento.
Por fim, hoje será divulgado a decisão do COPOM sobre política monetária e nossa expectativa é que a Autoridade Monetária corte a taxa Selic em 0,50 p.p. levando-a ao patamar de 3,25% a.a.
Rafael G. Cardoso, economista-chefe
rafael.cardoso@bancodaycoval.com.br
Antônio Castro, analista econômico
antonio.castro@bancodaycoval.com.br
Fonte: Broadcast e Bloomberg