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O que a teoria do cisne negro nos ensina sobre diversificação de investimentos?

Por Anand Kishore

Se 2020 está sendo um verdadeiro pandemônio para os profissionais de investimento, imagino como tem sido para o pequeno investidor.

Justo agora, após mais de um milhão de pessoas se aventurarem no mercado pela primeira vez, a tempestade perfeita se forma. Se esperavam navegar em águas plácidas, esses marinheiros de primeira viagem tiveram logo seus nervos testados, ao se depararem pouco depois da entrada com alguns “cisnes negros”.

Logo no início do ano, dois eventos elevaram o grau de tensão nos mercados: o ataque terrorista na refinaria da Saudi Aramco e a morte do principal general iraniano no Iraque, por uma ação militar dos Estados Unidos. Quando parecia que o que havia de susto a se tomar já havia passado, eis que aparece o grande “cisne negro”, a pandemia de covid-19, com consequências sobre a economia global que ainda estão sendo calculadas.

No seu primeiro ato, a pandemia abateu a oferta, quebrando as cadeias de suprimento e gerando a parada de várias indústrias. No segundo, devastou a demanda por bens de consumo e serviços, em meio às inevitáveis políticas de isolamento social. Provavelmente, o último ato consistirá na contabilização das perdas humanas e nos danos financeiros provocados nos balanços das empresas e governos – esses certamente estarão mais endividados ao fim desta crise.

A teoria do cisne negro

Mas por que essas características configuram o que classificamos como “cisne negro”? O termo foi cunhado pelo investidor e acadêmico Nassim Nicholas Taleb para ilustrar, por meio da história da descoberta da espécie de cisnes negros, a fragilidade e a visão restrita do ser humano.

No mundo antigo, acreditava-se que existiam apenas cisnes brancos. Com a descoberta da Austrália, os ornitólogos se depararam com cisnes negros, rompendo com uma crença baseada em evidências do que se conhecia até então. Com essa parábola, Taleb procurou ilustrar nossa tendência a adotar padrões simples para prever eventos. E a falhar, eventualmente, diante de imprevistos.

Para que um evento seja considerado um “cisne negro”, Taleb traçou três atributos: o primeiro é ser um outlier, escapar às previsões, ou seja, quando nada ocorrido no passado aponta para tal possibilidade; o segundo parâmetro é que seu advento cause um impacto extremo; e, por fim, que seja suscetível a explicações desenvolvidas posteriormente pelo homem, que assim pensa tê-lo apreendido e tornado previsível.

Essas “profecias do passado” não contribuem, no entanto, para que se evite que “cisnes negros” tornem a pregar peças nos investidores. Não se pode antecipar algo que tem por natureza ser imprevisível, mas pode-se montar proteção para momentos em que esse tipo de coisa acontece e, assim, fazer com que seu efeito não seja devastador. Ao menos do ponto de vista financeiro.

A primeira dica é ter – e conservar – a humildade de aceitar que sabemos muito pouco sobre tudo. Lembra aquela máxima de Sócrates, “só sei que nada sei”? A partir do momento em que assumimos essa postura, evitamos um viés cognitivo muito importante em finanças comportamentais chamado superconfiança. É ela que nos leva a dar muito mais valor à nossa opinião do que ela realmente vale.

Os acadêmicos e prêmios Nobel Daniel Kahneman e Amos Tversky sugerem que a superconfiança deriva do viés da autoatribuição e do viés da retrospectiva. O primeiro se refere à nossa propensão em justificar o nosso sucesso pelas nossas habilidades técnicas e interpessoais, ao passo que o insucesso é sempre culpa dos outros, ou falta de sorte.

Já o viés da retrospectiva nos leva a crer que, depois de um evento ocorrido, nós já o havíamos previsto. É o famoso “engenheiro de obra feita”. O problema é que, se pensamos sempre que possuímos o dom de prever o passado melhor do que realmente previmos, tenderemos a acreditar também que podemos prever o futuro melhor do que realmente temos capacidade para fazer.

Pela mesma razão que nos leva a reconhecer que não somos capazes de antecipar alguns acontecimentos de grande impacto nas nossas vidas, também devemos admitir que muita convicção sobre tal ou qual ativo deve ser tratada com desconfiança.

Diversificação como mecanismo de proteção

Em outras palavras, sempre diversifique seus investimentos. Quanto mais variada e bem distribuída for uma carteira, menores as chances de que toda ela seja abatida pela ocorrência de algo que parecia impossível, mas aconteceu.

Mas um investidor que se protege bem contra “cisnes negros”, ainda que jamais tenha visto um, também leva em consideração que é necessário lançar mão de estratégias de investimento que só um profissional do ramo, preparado e certificado para exercer essa função, pode montar. Um gestor sabe como utilizar instrumentos tais como opções e contratos futuros exatamente como um profissional sabe usar o equipamento de proteção próprio para a sua atividade.

Proteção não é reduzir o risco de que acidentes ocorram. Imprevistos acontecem a todo o tempo e alguns deles moldam a nossa trajetória e nosso aprendizado. Proteção é reduzir o risco de que esses acidentes sejam fatais ou deixem sequelas graves.

Artigo publicado originalmente na coluna Palavra do Gestor, na edição de 28 de maio do jornal Valor Econômico.

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