
O mês de agosto começa sob um clima de incerteza global e ajustes locais importantes na economia. A intensificação das tensões comerciais entre os EUA e seus parceiros, aliada à manutenção de juros elevados e sinais de pressão inflacionária, está moldando o comportamento dos mercados e dos agentes econômicos.
Neste artigo, você confere a análise completa de Rafael Cardoso, economista-chefe do Banco Daycoval, com os principais pontos de atenção para o mês, tanto no cenário internacional quanto no contexto doméstico brasileiro.
Assista à análise completa em vídeo:

Sumário
ToggleCenário internacional: tarifas, juros e cautela
Nova escalada nas tensões comerciais
No ambiente externo, o mês foi novamente marcado por incertezas e tensões comerciais. O governo dos Estados Unidos, sob a administração de Donald Trump, decidiu intensificar sua estratégia tarifária, comunicando formalmente a diversos países que, na ausência de acordos comerciais, as tarifas de importação poderiam chegar a até 30% a partir de agosto.
Embora países como Japão, Reino Unido e União Europeia tenham conseguido negociar alíquotas mais brandas — entre 10% e 15% — o novo patamar ainda representa um avanço da guerra comercial, com potencial de impacto relevante sobre o comércio global.
Federal Reserve mantém juros, mas adota cautela
O Federal Reserve (Fed), por sua vez, decidiu manter a taxa de juros no intervalo entre 4,25% e 4,50%, refletindo o ambiente de cautela diante de possíveis efeitos inflacionários das tarifas.
Apesar da inflação cheia seguir próxima da meta, o Fed observa pressão nos preços de bens industriais e um mercado de trabalho ainda apertado, impulsionado em parte por uma política migratória mais restritiva do atual governo. Esse conjunto de fatores contribui para um cenário em que a autoridade monetária adota uma postura mais conservadora e mantém o ciclo de cortes de juros suspenso — com expectativa de retomada apenas no final do terceiro trimestre, e ainda assim com viés de postergação.
Inflação nos EUA: núcleo arrefece, mas o risco permanece
Já é possível notar algum impacto das novas tarifas sobre os preços dos bens industriais nos Estados Unidos. No entanto, os núcleos inflacionários seguem arrefecendo, o que tem ajudado a manter a inflação cheia próxima da meta do Fed.
Apesar disso, o curto prazo inspira atenção. A combinação entre pressão tarifária e mercado de trabalho aquecido gera uma inflação potencialmente mais elevada nos próximos meses, o que exige uma abordagem ainda mais cautelosa da autoridade monetária norte-americana.
Brasil: ajustes na projeção de crescimento e impacto das tarifas
PIB revisado: crescimento mais forte em 2026
No Brasil, o Banco Daycoval manteve a projeção de crescimento do PIB em 2,2% para 2025. Para 2026, a projeção foi revisada de 1,8% para 1,9%, refletindo ajustes no comportamento dos principais componentes da atividade econômica.
Impacto das tarifas de 50% dos EUA
A proposta de tarifa de 50% sobre exportações brasileiras para os EUA perdeu parte de sua força com a isenção de quase 700 itens, o que representa cerca de 44% da pauta exportadora brasileira para o país norte-americano. Ainda assim, segundo Rafael Cardoso, economista-chefe do Banco Daycoval, o impacto direto estimado no PIB brasileiro é de até -0,1 ponto percentual, considerando apenas os efeitos imediatos.
Consumo das famílias ganha força

Apesar da queda nas exportações, o consumo das famílias brasileiras deve se fortalecer ao longo do segundo semestre. Esse movimento é sustentado por três pilares principais:
- Mercado de trabalho aquecido
- Massa salarial em alta
- Pagamento de R$ 70 bilhões em precatórios no mês de julho, com impacto estimado de até 0,15 p.p. no PIB
Essa composição reforça a importância da demanda interna como principal motor de crescimento neste momento, enquanto o setor externo segue enfrentando dificuldades.
Exportações e inflação: reavaliações em curso
Exportações abaixo do esperado
Devido ao desempenho fraco no primeiro semestre, o Banco Daycoval revisou sua projeção de crescimento das exportações de 5,6% para 2,7% em 2025. A nova projeção leva em conta os efeitos da política tarifária norte-americana, além da desaceleração de importantes parceiros comerciais.
Inflação com viés de baixa
A projeção de inflação para 2025 foi levemente revista de 5,1% para 5,0%, com viés de baixa, especialmente nos bens industriais e alimentos. A inflação de serviços, por outro lado, permanece elevada, ainda refletindo a resiliência do mercado de trabalho.
Para 2026, a projeção de inflação foi mantida em 4,0%, com expectativa de desaceleração generalizada da inflação e da atividade econômica.
Selic deve encerrar 2025 em 15%
A expectativa para a taxa Selic ao final de 2025 continua em 15%, com o Banco Central adotando uma postura mais conservadora frente a um cenário externo incerto e risco fiscal elevado, típico de um ano pré-eleitoral.
Para 2026, a projeção é de uma Selic em 11,5%, com início do ciclo de cortes esperados nas duas primeiras reuniões do ano.
O Banco Central tem reforçado seu compromisso com a ancoragem das expectativas e deve seguir atento às pressões inflacionárias domésticas e externas.
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