Julho começou com incertezas renovadas tanto no cenário internacional quanto no ambiente doméstico. Em um mês marcado por instabilidade geopolítica, desaceleração econômica e desafios fiscais, investidores precisam redobrar a atenção com os sinais vindos do mercado. Neste artigo, você acompanha a análise completa de Rafael Cardoso, economista-chefe do Banco Daycoval, sobre os principais fatores que moldam o cenário macroeconômico neste momento — e os impactos que podem surgir para os seus investimentos.

Sumário
ToggleOriente Médio e a nova pressão sobre o petróleo
O mês começou com foco nas tensões geopolíticas. O conflito entre Israel e Irã, embora tenha dado uma trégua após intervenção diplomática dos EUA, continua sendo um fator de risco.
A preocupação principal é o risco de interrupção de rotas-chave do comércio global de petróleo, como o Estreito de Ormuz. A consequência direta é o aumento da volatilidade nos preços do petróleo, o que pode gerar impactos inflacionários globais nos próximos meses.
Estados Unidos: inflação cede, mas incerteza fiscal cresce
Inflação surpreende para baixo
Nos EUA, o dado mais relevante de junho foi a inflação de maio, que mostrou desaceleração em itens como habitação. Segundo Rafael Cardoso:
“A inflação de maio surpreendeu para baixo, com alívio em itens mais inerciais, como habitação. Por enquanto, o impacto das tarifas de importação ainda é limitado, mas deve aparecer nos próximos meses.”
Essa desaceleração deu algum alívio aos mercados e reduziu, no curto prazo, a pressão sobre o Federal Reserve. No entanto, ainda não é suficiente para alterar o rumo da política monetária de forma significativa.
Atividade econômica perde força
Além disso, os últimos dados mostram uma economia enfraquecida. As vendas no varejo e a produção industrial vieram abaixo do esperado, e até mesmo o PIB foi revisado para baixo, com destaque negativo para os setores de consumo e serviços.
O mercado de trabalho, no entanto, segue sendo o principal pilar de sustentação da economia americana, mantendo a taxa de desemprego em níveis historicamente baixos.
Fed cauteloso: cortes seguem no radar, mas mais distantes
O Federal Reserve manteve os juros entre 4,25% e 4,50%, mas houve aumento no número de dirigentes que preferem manter a taxa nesse nível por mais tempo. Para Rafael Cardoso, o ciclo de cortes deve começar, mas com viés de postergação:
“O Fed deve retomar os cortes no terceiro trimestre, com viés de postergação caso os efeitos inflacionários das tarifas sejam mais duradouros.”
Brasil: foco no fiscal e juros mais altos
Meta fiscal ameaçada
No Brasil, o foco segue sendo o desequilíbrio fiscal. A revogação do decreto do IOF pelo Congresso eliminou distorções, mas também reduziu a arrecadação esperada — o que dificulta o cumprimento da meta de resultado primário para os próximos anos.
Com isso, aumenta o risco de revisão da meta de 2026, atualmente prevista em superávit de 0,25% do PIB.
PIB enfraquecido, com exceção do emprego
Os dados de abril vieram mais fracos: indústria e varejo recuaram, e o setor de serviços só avançou graças ao desempenho do transporte. Todos os demais segmentos mostraram retração.
Apesar disso, o mercado de trabalho segue robusto, com a taxa de desemprego caindo para 6,1%, o menor nível já registrado, mesmo com o aumento da força de trabalho.
A projeção do Banco Daycoval é de que o PIB cresça 2,2% em 2025, com tendência de desaceleração gradual ao longo do segundo semestre.
Inflação: queda gradual, mas ainda fora da meta
O IPCA continua desacelerando, puxado pela deflação de alimentos e pela menor pressão dos bens industriais. Os serviços ainda pressionam, mas há moderação na margem.
Com isso, a expectativa do Banco Daycoval para o IPCA em 2025 caiu para 5,1%. Embora seja uma melhora, ainda está acima da meta de 3%, o que justifica a postura mais rígida do Banco Central.
Banco Central eleva a Selic para 15%
A grande surpresa do mês foi a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de elevar a Selic para 15%, contrariando a maioria das projeções do mercado, que esperava estabilidade.
Segundo Rafael Cardoso:
“Com expectativas desancoradas, é preciso manter uma política mais contracionista por mais tempo.”
Apesar do tom mais duro, o BC também sinalizou que essa pode ter sido a última alta do ciclo, e que a taxa será mantida nesse patamar por um período mais longo. O Daycoval projeta cortes apenas a partir do primeiro trimestre de 2026.
Conclusão: cautela e foco em fundamentos
O cenário macroeconômico de julho é marcado por incertezas elevadas e exige atenção redobrada. No exterior, a inflação e os conflitos geopolíticos seguem moldando as decisões de política monetária. No Brasil, o fiscal segue sendo o principal vetor de preocupação, e a Selic em 15% reforça a necessidade de estratégias mais defensivas.
Com base na análise de Rafael Cardoso, economista-chefe do Banco Daycoval, a recomendação é clara: manter um portfólio bem diversificado, com atenção à qualidade dos ativos e ao posicionamento fiscal do país.
