Como deve ficar a Selic em 2023? Confira a análise do nosso economista-chefe

Tempo de leitura: 2 minutos

Na última reunião de 2022, o Copom (Comitê de Política Monetária) manteve a Selic, a taxa básica de juros da economia, em 13,75%.

Os últimos dois anos foram caracterizados por uma alta expressiva da taxa de juros. Em 2021, a Selic subiu mais de 7 pontos percentuais, passando de 2% para 9,25%.

Já em 2022, a continuidade do aperto monetário por parte do Banco Central levou a taxa aos atuais 13,75%, totalizando aperto de 4,5 pontos percentuais adicionais.

Até aqui, a velocidade e intensidade da alta da taxa de juros foram notórias. Entretanto, os impactos na economia real ainda estão se materializando lentamente.

Mas o que esperar para 2023?

De acordo com Rafael Cardoso, economista-chefe do Banco Daycoval, o esperado é que a atividade econômica aconteça de forma mais intensa no próximo ano.

“O aperto monetário realizado levou a taxa de juros para o patamar mais contracionista desde meados de 2015/16. Além disso, também resultou em um aperto das condições financeiras mais amplas, que consideram uma gama de indicadores financeiros, para patamares historicamente relevante. Neste sentido, a impressão é que o trabalho do Banco Central estava feito e que a desaceleração levaria a inflação em direção as metas”, relata Cardoso.

Neste contexto, que ainda é o cenário base, a taxa SELIC seria reduzida a partir de agosto de 2023, chegando em 11,75% ao final do ano. Entretanto, nas últimas semanas, as discussões em torno do futuro da política fiscal brasileira têm elevado a percepção de risco.

Segundo o economista, uma mudança do arcabouço fiscal que leve à insustentabilidade da dívida pública deve resultar em uma piora dos ativos financeiros e das expectativas de inflação.

A chamada PEC da Transição nos moldes iniciais propostos, sendo quase R$ 200 bilhões de gastos adicionais por tempo indeterminado, levaria a dívida pública a superar os 100% do PIB em período relativamente curto. Versões mais enxutas, com gasto em torno de 150 bilhões e prazo de dois anos, resultariam em uma trajetória pouco mais benigna.

“Entretanto, mesmo que a saída para a PEC da Transição seja razoável, as incertezas continuarão em alta. Isto porque é sabido que, em 2023, o arcabouço fiscal, de forma mais ampla, será rediscutido”, complementa Cardoso.

O Teto de Gastos, da forma com que foi aprovado em 2016, será revisto e, até lá, haverá poucos fatos concretos que ajudem a projetar a dívida nos próximos anos.

O economista continua: “sendo assim, acreditamos que essa incerteza fiscal deve perdurar durante grande parte de 2023, provavelmente ao longo de todo o primeiro semestre, impossibilitando que o Banco Central inicie o fim do ciclo de aperto monetário. E, mais do que isso, um novo arcabouço fiscal que não gere a percepção de sustentabilidade fiscal e eleve as expectativas de inflação pode levar, eventualmente, a novas altas da taxa de juros”.

Desta forma, ainda que o cenário base contemple a queda da taxa de juros em agosto de 2023, não se pode descartar a hipótese da redução da taxa Selic ocorrer ainda mais tarde e de forma mais lenta.

Também deve-se considerar o risco fiscal no sentido de levar a taxa SELIC a renovar o ciclo de alta. “O trabalho do Banco Central parecia feito, mas pelo visto teremos novos desafios adiante”, finaliza Cardoso.

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