Quais os Impactos do Tarifaço do Trump? Confira as Análises dos Nossos Especialistas

Tempo de leitura: 6 minutos

As recentes medidas protecionistas adotadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, estão movimentando os mercados globais e gerando diversas incertezas para investidores e governos.

Com tarifas que chegam a 145% sobre produtos chineses e 10% para outros países, incluindo o Brasil, os impactos são profundos e variados.

Para entender melhor os desdobramentos desse “tarifaço” e seus efeitos sobre a economia global, conversamos com três especialistas do Banco Daycoval: Rafael Cardoso, economista-chefe; Gabriel Mollo, analista de investimentos; e Otávio Oliveira, gerente de tesouraria. Confira!

O que está por trás do tarifaço do Trump?

Rafael Cardoso, economista-chefe do Banco Daycoval

As tarifas impostas pelo governo Trump são uma tentativa de fortalecer a economia americana frente à concorrência internacional. No entanto, essas medidas protecionistas causam distorções significativas nas cadeias de suprimentos globais.

Segundo Rafael Cardoso, a questão tarifária do novo governo Trump pode ser dividida em dois choques distintos.

O primeiro diz respeito às próprias tarifas, que configuram o que nós, economistas, chamamos de choque de oferta: elas pressionam os preços para cima e a atividade econômica para baixo. A magnitude desse choque ainda é incerta, mas, caso sejam mantidas as tarifas de 145% sobre a China e de 10% sobre os demais países, os impactos deverão ser significativos.

Com base em um modelo desenvolvido por economistas do Peterson Institute (The International Economic Implications of the Trump Program), estimamos os prováveis efeitos sobre os Estados Unidos e a China, nossos principais parceiros comerciais.

No caso norte-americano, por exemplo, a tarifa atual pode resultar em um crescimento do PIB entre 1 e 1,5 ponto percentual inferior ao que seria observado na ausência do choque, enquanto a inflação pode subir em cerca de 2 pontos percentuais.

Já na China, o impacto é ainda mais expressivo do ponto de vista da atividade econômica, podendo reduzir o PIB entre 2 e 2,5 pontos percentuais, com elevação da inflação entre 1 e 1,5 ponto percentual.

O segundo choque diz respeito à incerteza sobre o futuro gerada durante o processo — uma incerteza que provavelmente não cessará, mesmo com eventual recuo na imposição de tarifas ou avanço nas negociações. Este é um choque recessivo para a atividade econômica e, portanto, desinflacionário.

Considerando os exercícios dos economistas Baker, Bloom e Davis, com base no índice de incerteza que eles desenvolveram (EPU), estima-se que o impacto desse choque sobre o PIB dos EUA possa ser da ordem de 2 pontos percentuais negativos, com efeito baixista sobre a inflação.

Impactos para o Brasil

“Para nós, no Brasil, seguimos avaliando os desdobramentos, mas, em nossa análise preliminar, acreditamos que o cenário externo se traduzirá em menor atividade econômica doméstica e menor inflação no médio prazo. A grande incógnita, no entanto, é o comportamento do câmbio: se a depreciação do real for mais intensa do que a queda das commodities, o efeito doméstico pode se inverter e resultar em maior inflação,” explica Cardoso.

Ainda de acordo com o economista-chefe, nesse contexto, acredita-se que, no curto prazo, o Banco Central deve manter o plano atual e levar a SELIC a 15,25%, mas com atenção redobrada aos dados correntes, que podem eventualmente sugerir a necessidade de mudança de rota.

Impactos do tarifaço na Bolsa de Valores

Gabriel Mollo, analista de investimentos do Daycoval

Segundo Gabriel Mollo, os aumentos das tarifas promovidos pelo presidente Donald Trump tendem a gerar impactos significativos nos mercados globais, afetando especialmente o setor de commodities.

“Ao elevar as barreiras comerciais, os custos de exportação aumentam e a demanda internacional por matérias-primas pode se retrair, pressionando para baixo os preços dessas mercadorias, declara Mollo”.

No curto prazo, esse movimento gera incertezas e provoca aversão ao risco entre os investidores, o que se reflete na desvalorização das ações de empresas ligadas ao setor — como siderúrgicas, mineradoras e produtoras agrícolas —, que dependem fortemente do comércio exterior.

Além disso, a escalada protecionista pode comprometer o crescimento global, reduzindo ainda mais o apetite por ativos ligados ao ciclo econômico e penalizando a performance da bolsa de valores.

Volatilidade no dólar: perspectivas e riscos

Otávio Oliveira, gerente de tesouraria do Banco Daycoval

Otávio Oliveira chama a atenção para a recente volatilidade do dólar.

Segundo o gerente de Tesouraria, a volatilidade no dólar dos últimos dias atribuída as taxações de Trump expõe de certa forma a falta de perspectiva sobre o que esperar para os próximos capítulos.

Com as repetidas tarifas sobre todo o mundo, Trump provoca um movimento fortíssimo em todos os aspectos do mercado. Seja Bolsas, juros e principalmente moedas.

O que inicialmente se iniciou com alíquotas para todos os países que fazem negócios com os EUA, provocou uma escalada de movimentações atípicas no mercado internacional que não eram vistas desde a crise do subprime em 2008.

Trump que inicialmente provocou as inúmeras nações com suas tarifas justamente para trazê-los à mesa de negociações já em pé de vantagem, como já usou de estratégia várias vezes o próprio peso da economia a americana para vencer o argumento, encontrou uma barreira (ou muralha) a sua altura, justamente na China.

O governo de Pequim não abraçou a aposta e em poucos momentos o mundo assistiu a uma escalada das tarifas em 145% do lado americano e 125% do lado chinês até agora. Seguidos aos acontecimentos o mundo presencial um forte movimento de “risk off”, ou seja, saída de ativos considerados arriscados.

E onde até ativos sólidos estavam sofrendo com volatilidade, o real patinou até patamares de 6,10 que não eram vistos desde a virada do ano. Após este pico com a mesma rapidez, notícias mais recentes confirmaram que Trump recuou com relação aos países que posso tarifas recíprocas, como o Brasil, onde ficamos “apenas” com os 10% originais de tarifas propostas pelo americano pelos próximos 90 dias, trazendo o real de volta aos 5,80.

“Espera-se forte volatilidade no dólar enquanto não for efetivamente decidido o que deva se suceder. Também é esperado que em algum momento China e EUA cheguem a algum consenso e que os países comercialmente aliados aos americanos encontrem um meio termo com Trump. Mas se nestes 90 dias houver algum recuo a volatilidade deve continuar”, avalia Oliveira.

Presume-se que Trump busca desvalorizar o dólar a fim de re-industrializar os EUA. Essa estratégia também vai de encontro com a tese de diminuição da dívida americana. A desvalorização do dólar, se aplicada com sucesso tende a aumentar as exportações e reduzir impostos.

No longo prazo o Brasil sendo um país que tem negócios com China e EUA focando primariamente na exportação de matéria prima e importação de produtos acabados, as tarifas devem retirar um valor importante da balança comercial Brasileira. E o movimento de aversão ao risco deve ainda mais enfraquecer a moeda brasileiro no tempo.

Conclusão

O tarifaço promovido por Donald Trump representa uma mudança significativa no comércio global, com efeitos sobre a economia mundial, inclusive para países emergentes como o Brasil.

A visão dos especialistas do Banco Daycoval é clara: os impactos sobre PIB, inflação, câmbio e commodities são expressivos e devem continuar provocando incertezas no mercado nos próximos meses.

Para os investidores, o momento exige cautela, diversificação e atenção redobrada aos desdobramentos da política internacional e seus reflexos nos mercados financeiros.

Quer continuar por dentro das principais análises econômicas? Acompanhe o blog do Banco Daycoval e fique por dentro das novidades do mercado para investir com confiança!

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