
A recente decisão dos Estados Unidos de impor tarifas de 50% sobre produtos brasileiros marca um novo capítulo nas relações comerciais entre os dois países.
A medida, anunciada pelo presidente Donald Trump, reacende tensões geopolíticas e acende alertas para investidores no Brasil.
Com impacto direto em setores estratégicos como agronegócio, indústria de base e exportadoras, a iniciativa exige atenção na estratégia de alocação de recursos, tanto em renda variável quanto em renda fixa e câmbio.
Para entender os desdobramentos desse cenário e saber como proteger seu portfólio, ouvimos três especialistas do Banco Daycoval:
- Gabriel Mollo, analista de renda variável
- Paulo Henrique Oliveira, estrategista de investimentos
- Otávio Oliveira, gerente de tesouraria
A seguir, veja as análises exclusivas e saiba como investir com mais segurança em tempos de incerteza.
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Sumário
ToggleO impacto da tarifa na bolsa brasileira
As empresas brasileiras que têm nos Estados Unidos um importante destino para suas exportações tendem a sofrer mais com a nova tarifa.
Segundo Gabriel Mollo, analista de renda variável do Daycoval, o efeito sobre o mercado de ações pode ser severo:
“A decisão dos EUA de aplicar tarifas de 50% sobre produtos brasileiros reacende tensões comerciais e impõe um novo desafio ao mercado local. Os EUA representam cerca de 15% das exportações do Brasil, com destaque para itens como petróleo, aço, alumínio, café, suco de laranja e carne. Ou seja, o impacto não é desprezível — e recai principalmente sobre setores que dependem diretamente do mercado americano para manter volumes e margens. Companhias como Embraer, Suzano, Petrobras, JBS, Marfrig e BRF estão no centro desse ruído e devem ver mais volatilidade nos próximos dias. O risco é de revisão para baixo nas receitas em dólar, reprecificação de múltiplos e cautela por parte do investidor institucional.”
Nesse contexto, a orientação para o investidor é clara: redobrar a atenção com papéis de empresas exportadoras e buscar ativos menos expostos ao comércio exterior.
Mollo recomenda especial atenção a setores com receita mais previsível e atuação doméstica:
“Esse tipo de choque externo reforça a migração de capital para setores com mais previsibilidade e menor exposição ao comércio internacional. Empresas que atuam no mercado doméstico e têm receitas reguladas como Engie, Taesa, Sabesp, Copel e Sanepar ganham tração nesse cenário. São companhias que combinam bom dividend yield, resiliência operacional e baixa sensibilidade a pressões externas.”
Renda fixa: onde buscar proteção e oportunidade
Na renda fixa, o ambiente também se torna mais complexo. A escalada do dólar tende a gerar pressões inflacionárias no curto prazo, o que exige atenção especial na escolha dos títulos.
Paulo Henrique Oliveira, estrategista de investimentos do Daycoval, destaca a natureza inesperada da decisão americana:
“As tarifas são um choque exógeno, inesperado e sem precedentes recentes. Embora no curto prazo a reação dos mercados seja negativa, os efeitos de médio e longo prazo ainda são incertos.”
Ele ressalta que o histórico de decisões do presidente americano torna difícil prever a duração das medidas, mas o investidor não pode esperar sentado.
“As decisões de Trump têm se mostrado instáveis e pouco racionais, não temos certeza se essas tarifas vão vigorar por prazo suficientemente prolongado, ou mesmo se não irão cair por terra antes mesmo de entrarem em vigor.”
Enquanto o cenário se desenha, Oliveira aponta dois efeitos prováveis para a economia brasileira:
- Valorização do dólar pela menor entrada de divisas, com impacto inflacionário
- Redução da atividade econômica, afetando crescimento e, por consequência, os juros no médio prazo
No curto prazo, o foco deve estar nos títulos indexados à inflação (IPCA+) com vencimento de até dois anos, que ajudam a proteger contra a alta de preços.
“O fator inflacionário tende a prevalecer no curto prazo, então títulos IPCA+ com duration de até 2 anos são uma boa alternativa para se proteger do aumento no nível de preços.”
Já para horizontes mais longos, títulos prefixados podem ser boas oportunidades:
“No médio e longo prazo, o menor dinamismo econômico exigiria uma Selic menor para manter a inflação dentro das metas do BC, assim, títulos pré-fixados com taxas atuais de pelo menos 13,50% a.a. tendem a oferecer ganhos relevantes de marcação a mercado aos investidores.”
Câmbio: como o dólar deve se comportar
Com a balança comercial sob pressão, o câmbio se torna um canal de ajuste importante. O gerente de tesouraria do Banco Daycoval, Otávio Oliveira, explica que, embora o Brasil compre mais dos EUA do que vende, a tarifa pode gerar forte impacto nos setores exportadores.
“A imposição de uma tarifa de 50% pelo governo americano sobre ativos brasileiros representa um endurecimento das relações comerciais entre os dois países, o que pode gerar significativos impactos econômicos. A princípio, a balança comercial dos países está em relativo equilíbrio com os EUA superavitários contra o Brasil.”
Do ponto de vista cambial, o risco é de valorização do dólar, especialmente por conta da menor entrada de divisas e pela possível fuga de capitais estrangeiros:
“Com a expectativa de menor entrada de dólares no país via exportações, há uma pressão de alta sobre o câmbio, resultando na valorização do dólar frente ao real. Além disso, o aumento da percepção de risco por investidores estrangeiros, podendo acentuar a saída de capitais, fortalecendo ainda mais o dólar e gerando volatilidade nos mercados financeiros.”
Essa dinâmica pode forçar o Banco Central a agir com medidas como intervenção no câmbio via swaps ou venda de reservas internacionais, além de reconsiderar o ritmo de queda da Selic:
“Atualmente os juros que chegaram a patamares de 15% e que estão viés de queda até o final do ano, podem ser mantidos por mais tempo ou até elevados a fim de manter o diferencial de juros atrativo ao investidor estrangeiro, o chamado carry-trade, contendo parte do fluxo de saída dos dólares, limitando uma nova alta.”
Oliveira lembra ainda que as medidas entram em vigor apenas em agosto, o que abre margem para eventuais revisões ou negociações.
Conclusão
A tarifa de 50% imposta pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros adiciona uma camada importante de incerteza ao cenário econômico nacional. As repercussões vão além das exportações e devem afetar diretamente o comportamento do investidor brasileiro.
Com maior volatilidade nos mercados, a escolha dos ativos passa a exigir uma análise mais criteriosa. Conforme destacaram os especialistas do Banco Daycoval, é hora de reavaliar os riscos.


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