Por Rafael Cardoso
Economista-chefe Daycoval Asset
Após um ano de taxa SELIC estacionada em 13,75%, o ciclo de queda começou Mas ainda restam duas dúvidas:
Qual será o ritmo de redução? Em que nível a SELIC vai parar?
Em relação ao ritmo de redução, o COPOM, que é o comitê de política monetária, já sinalizou que pretende manter os cortes de meio ponto percentual nas próximas reuniões no plural, o que significa que são pelo menos duas. Mas acreditamos que há a possibilidade de acelerar em algum momento.
Neste sentido, dois fatores devem pesar na aceleração ou não dos cortes.
A continuidade da queda das expectativas em direção as metas de inflação é uma delas, mas no momento atual e dada comunicação do Banco Central, acreditamos que a queda da inflação de serviços mais acelerada que o imaginado talvez seja o principal determinante da mudança ou não do ritmo de redução da taxa de juros.
Inflação de serviços 2024
Então a pergunta que fica é o que esperamos para a inflação de serviços.
Dada a redução do impulso à atividade econômica vindo do agro passado o bom momento do início do ano e a materialização do freio devido a taxa de juros alta dos últimos trimestres, vislumbramos desaceleração notável da atividade econômica no segundo semestre.
O mercado de trabalho, por exemplo, que teve maior dinamismo nos últimos trimestres em regiões com bom desempenho agro deve arrefecer.
Além disso, a própria inflação de serviços tem características que sugerem algum arrefecimento adiante. Temos razões para crer que os grupos de serviços que acumulam as maiores altas vão arrefecer adiante.
Por exemplo, a inflação relacionada a turismo impulsionada pela reabertura pós pandemia não deverá se repetir na mesma magnitude, a inflação de serviços automotivos atrelada a alta do preço das peças, que já se reverteu, também não deverá se repetir, assim como a inflação de habitação composta de alugueis e condomínio altamente atrelados ao nível da inflação passada deverão arrefecer uma vez que o IPCA total está em patamar relativamente baixo e passará a reajustar contratos indexados de forma mais modesta.
Sendo assim, no nosso cenário, a principal condição para o banco central acelerar o ritmo de cortes será satisfeita. Entretanto, acreditamos que isto só ficará claro ao final deste ano ou no início de 2024 e, portanto, caso haja aceleração do ritmo de cortes este só aconteceria nos últimos meses deste ano ou nos primeiros meses do ano que vem.
E quanto ao final do ciclo?
Taxa Selic 2024
As condições para níveis mais baixos para taxa de juros ao final deste ciclo são semelhantes as discutidas para mudança de ritmo.
Neste sentido, no nosso cenário base, acreditamos que a taxa SELIC deva atingir os 9% em meados de 2024. Entretanto, como vemos probabilidade de arrefecimento da inflação de serviços mais intenso do que o esperado pela média de mercado, acreditamos também que há chance não desprezível da taxa SELIC ir abaixo dos 9% ao final do ciclo.
Vale ressaltar, por exemplo, que a comunicação, diagnóstico e plano atual diz respeito a atual composição da diretoria, mas ao final deste ano dois diretores que votaram pelo início mais lento do ciclo terão seus mandatos chegando ao fim.
Desta forma, para mesmo cenário ao longo de 2024, acreditamos que a nova composição da diretoria tem maior probabilidade de praticar juros menores.
Para concluir, será importante acompanhar a inflação de serviços, uma vez que esta deve ser nosso melhor guia para a política monetária nos próximos meses.
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