A cotação do dólar em relação ao real é um tema que desperta grande interesse entre investidores, empresários e cidadãos em geral.
As flutuações dessa moeda influenciam diretamente a economia brasileira, afetando desde a inflação até os custos de importação e os investimentos no exterior.
Em 2025, muitos se perguntam: será que o dólar vai cair ou subir em relação ao real?
Para responder a essa questão, neste artigo, Otávio Oliveira, Gerente de Tesouraria do Banco Daycoval, analisa uma série de fatores econômicos, políticos e globais que podem impactar a moeda americana.
Você vai conferir as principais tendências e previsões que podem ajudar a entender o comportamento do dólar no próximo ano. Boa leitura!
Sumário
ToggleO que deve afetar o dólar em 2025?
O ano de 2024 nem chegou ao seu fim e muito já se comenta para o ano de 2025.
Este primeiro quarto de século chega ao fim com um mundo mais dividido, social, política e economicamente. Porém, muito mais integrado entre as economias globais em comparação com o início dos anos 2000.
As expectativas econômicas recaem sobre as possíveis ações de políticos. No Brasil, tendo a atenção dos mercados à questão fiscal, e, no exterior, com foco no enfrentamento de nações no campo do comércio exterior.
Além disso, todo este cenário é permeado pelo conflito bélico em regiões-chave do mundo.
Não é de espantar que os mercados, que vivem de expectativa, já antecipem parte dessa volatilidade. E, em mercados muito líquidos, como o cambial, é factível que o real sofra variações sob influência de cenário macroeconômico.
O Efeito Trump nos mercados
Com sua segunda passagem pelo salão oval marcada para 20 de janeiro de 2025 em Washington, o presidente eleito Donald Trump, se reelege em meio ao descontentamento do eleitor americano, principalmente em temas sociais, como a imigração e a diminuição do protagonismo americano no cenário global.
Trump retorna à casa Branca com uma retórica de “América em Primeiro Lugar”, o que deve favorecer decisões protecionistas que já ganham mais adeptos desde a pandemia.
Com um foco em favorecer a economia americana em detrimento de investimentos no exterior, os EUA devem provocar um efeito de fortalecimento do dólar contra as outras moedas globalmente.
Neste movimento, é possível que moedas como as dos países emergentes possam se enfraquecer, e isso inclui o nosso Real.
O FED de Powel e o dólar em 2025
Outro ponto fundamental para a implementação da política econômica de Trump é o fato de que, desde a pandemia, os EUA enfrentam uma inflação sem precedentes em sua história recente.
O presidente do Banco Central Americano, Jerome Powell, passou os últimos anos buscando alternativas para favorecer a economia americana. Na tentativa de conter os juros, houve um aumento expressivo das taxas, que antes rondavam patamares perto dos 0%, e depois chegaram a superar os 5%, no seu auge.
Agora, o FED avalia um cenário onde a inflação parece estar mais controlada, o que tornou possível que Powell iniciasse alguns cortes de juros.
Mas com Trump de volta jurando favorecer a indústria e o agronegócio americanos, juntamente com promessas referentes à inflação, o FED avalia com cautela suas próximas ações.
E ao aguardar o início do próximo governo, as taxas de juros nos EUA podem diminuir em um ritmo um pouco mais lento do que anteriormente imaginado.
A consequência pode ser efetivamente uma fuga de capital a níveis internacionais para a segurança dos títulos americanos. Com menos dólares na praça, a perda de valor de diversas moedas pode se agravar.
Conflitos internacionais e a estabilidade dos mercados globais
O primeiro quarto do século 21 começa com uma instabilidade internacional que a tempos o mundo não experenciava com duas guerras envolvendo potencias direta e indiretamente.
Tanto na Europa com a Ucrânia, como no entorno de Israel no Oriente Médio, resoluções bélicas vêm sendo utilizadas. Há sempre o temor que conflitos locais acabem sendo escalados regional e internacionalmente.
É também valido lembrar que com a volta de Trump, se cogita como será sua tratativa com outro colosso comercial, a China. Até porque, em seu primeiro mandato, ambos os países protagonizaram uma guerra fiscal que preocupou os mercados globais.
Historicamente, apesar de favorecer certas industrias, conflitos costumam trazer à mesa inflação e a procura por ativos tal qual o ouro ou bonds.
Algumas moedas consideradas estáveis também podem surfar esta onda como o Yen ou o Franco Suíço.
Mas seus pares de países emergentes, tal qual o real do Brasil, podem experimentar volatilidade e tendência de alta se a situação se agravar.
O Brasil e os desdobramentos locais para 2025
O Brasil ainda busca um certo protagonismo internacional. Áreas voltadas ao ambientalismo e causas sociais são frequentemente trazidas como foco, visto o recente evento do G20, no Rio De Janeiro.
Mas a atenção dos principais players do mercado local já há meses possui um tema que vem demandando foco total: a questão fiscal.
Apesar do Brasil iniciar 2025 com uma taxa de desemprego satisfatória e previsão de PIB com aumento acima da casa dos 3%, não é de hoje que os principais participantes da economia brasileira questionam se as contas públicas estão sendo bem controladas.
Desde o início do terceiro Governo Lula, questiona-se se os novos gastos que vem sendo propostos com o intuito de alavancagem e crescimento econômico trarão o efeito desejado ou simplesmente irão se acumular causando um déficit fiscal nos próximos anos.
O ministério da Economia, capitaneado por Fernando Haddad, busca oferecer uma solução com uma reforma fiscal, mas enfrenta dificuldades de aprovação no Congresso e no Senado.
Juntamente com esse movimento, o mercado precifica um aumento da inflação para 2025 e 2026. Risco que já reflete seu preço no prêmio dos títulos públicos norteados pela inflação, as NTNBs.
Adiantando o movimento, o BC já iniciou um novo ciclo de aperto econômico, elevando a taxa básica de juros. Hoje a taxa que se encontra em 11,25%, já tem ambiente para um aumento de 75 bps, elevando a taxa para 12% até o final do ano.
Naturalmente, uma alta de juros combate a inflação localmente e promove uma retenção de moeda estrangeira no país em detrimento da aceleração do crescimento econômico.
Essa diferença entre os juros locais contra os internacionais, chamada de carry trade, favorece a tomada de risco pelos investidores estrangeiros. O que pode segurar o dólar em patamares mais baixos. Mas é necessário notar que somente juros altos por si só não é suficiente para manter o dólar em níveis aceitáveis.
Conclusão
Mesmo com desafios para 2025 e uma possível volatilidade mais acentuada, dado que provavelmente teremos uma queda mais lenta dos juros no exterior junto com um cenário de aumento da Selic localmente, é factível que o dólar não se descole muito das previsões de mercado.
O próprio Relatório Focus aponta que o câmbio deve operar perto dos R$ 5,50 nos próximos anos.
Mas há pontos que são necessários levar em conta, embora muito difíceis de serem precificados, tal qual os desdobramentos políticos no exterior, com foco principalmente na relação entre EUA e China no novo governo Trump.
Localmente, o mercado ainda aguarda uma certeza maior do governo referente ao controle de gastos. No final, apenas uma política fiscal associada com uma política econômica coerente pode favorecer positivamente o nosso real.