No exterior, as bolsas asiáticas fecharam em forte baixa nesta quarta-feira, em meio a temores sobre o recente aumento nos juros dos Treasuries, fator que pressiona ações que se valorizaram bastante nos últimos meses.
Em Hong Kong, os mercados ficaram pressionados após o governo da região revelar planos de elevar um imposto sobre negócios com ações, de 0,10% para 0,13%. Por outro lado, Hong Kong também anunciou um pacote fiscal de US$ 15,4 bilhões para ajudar o território a se recuperar da crise gerada pela pandemia de covid-19, que levou a economia local a contrair 6,1% no ano passado.
Já os índices futuros das bolsas de Nova York avançam com investidores à espera do segundo dia de testemunho do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, no Congresso americano, e de comentários de outros dirigentes do Fed.
Na Europa, as bolsas também operam positivas devido a balanços da região e a revisão do Produto Interno Bruto (PIB) da Alemanha.
A despeito da aversão a risco que predominou na Ásia, o presidente do Fed, Jerome Powell, reafirmou ontem, em depoimento no Senado americano, que não vê necessidade de mudar sua atual política de juros ultra baixos e agressivas compras de ativos. Powell disse ainda que a recente alta dos juros longos reflete a confiança do mercado na economia dos EUA e minimizou os riscos de aumento da inflação no país.
Sobre a agenda econômica na Europa, destaque para a revisão do PIB alemão, que mostrou que a maior economia europeia teve desempenho melhor do que inicialmente estimado no final de 2020. A Alemanha cresceu 0,3% no quarto trimestre ante o terceiro (a leitura anterior havia sido de 0,1%) e registrou contração de 3,7% no confronto anual, de acordo com pesquisa final da Destatis, como é conhecida a agência de estatísticas do país.
No Brasil, o destaque desta manhã fica para a divulgação do IPCA-15 de fevereiro que mostrou alta de 0,48% na variação mensal e com isso acumula alta de 4,57% no acumulado em 12 meses.
Preliminarmente podemos dizer que o resultado desta publicação foi qualitativamente melhor que a leitura anterior. O número fechado de fevereiro foi marginalmente abaixo do esperado por nós (0,52%) com surpresa baixista em serviços e alimentação no domicílio que também veio pouco abaixo do esperado. Em relação aos núcleos, a leitura mostrou arrefecimento na margem e queda na média trimestral dessazonalizada e anualizada que em dezembro e janeiro apresentaram alta de mais de 5% e agora já arrefece para 4,79%.
Na seara política, fica no radar a notícia de capitalização da Eletrobras e o fato que o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), prometeu pautar já na semana que vem a Medida Provisória que inclui a Eletrobras e suas subsidiárias no Programa Nacional de Desestatização (PND) e abre caminho para sua privatização.
Por outro lado, não deve ser bem vista a notícia de que a votação da PEC Emergencial deve ser adiada para a próxima semana e poderá ser fatiada. A PEC para destravar o auxílio emergencial recebeu uma enxurrada de críticas no Senado e a votação deve ser adiada para a próxima semana.
Lideranças cobram a apresentação de um novo parecer mais enxuto sem os itens mais polêmicos, como a desvinculação dos gastos com saúde e educação e a revogação do repasse de 28% das receitas do FAT ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Além disso, a Câmara avalia fatiar a PEC e aprovar primeiro o dispositivo que autoriza o governo a lançar uma nova rodada de auxílio neste ano, antes das medidas de fortalecimento das regras de contenção de gastos para crises futuras.
Também deve trazer cautela o anúncio, previsto para hoje, de lockdown no Estado de São Paulo, que deve abranger todas as cidades e ser das 22 horas às 5 horas.
Nesta semana, o Estado atingiu o maior número de internações em UTI desde o início da pandemia. A decisão final será tomada nesta quarta-feira, 24, quando o governador João Doria (PSDB) vai anunciar as novas medidas de restrição.
Sobre a avanço da vacinação, a ausência de uma estratégia clara do governo, a compra de vacina contra a covid-19 pelos entes da Federação foi autorizada ontem em duas frentes. O Supremo Tribunal Federal (STF) formou maioria para permitir a aquisição de imunizantes pelos Estados e prefeituras e a Câmara aprovou o texto-base da Medida Provisória (MP) 1.026, que facilita a compra também por governos estaduais e administrações municipais.
Fonte: Broadcast, Bloomberg e FGV
Rafael G. Cardoso, economista-chefe
rafael.cardoso@bancodaycoval.com.br
Antônio Castro, analista econômico